quarta-feira, 16 de março de 2011

Ong denucia descaso na Saúde Mental


O acolhimento no hospital ela já vivenciou por nove vezes. Diagnosticada com transtorno bipolar há muitos anos, a funcionária pública aposentada sabe o que é precisar de um leito psiquiátrico em momentos de crise. “Em casa a gente não fica livre como fica no hospital. As pessoas não entendem, dizem que a gente está fazendo barulho, ficam com vergonha”, descreve.

Com o fechamento de 103 vagas da Clínica de Saúde Mental Dr. Suliano, em fevereiro, a busca por leitos psiquiátricos em Fortaleza tem sido mais difícil para familiares e parentes com transtornos psiquiátricos. E esse quadro tende a piorar com o fechamento, em breve, de mais 80 vagas no Instituto de Psiquiatria do Ceará.

A falta de leitos prejudica pacientes de esquizofrenia, transtorno bipolar, depressão e demência em crises psicóticas agudas.

A presidente da ONG Associação em Defesa da Saúde Mental (ADSM), Valéria Novais, defende que os governos municipais e estaduais encontrem alternativas para a falta de leitos em hospitais psiquiátricos na Capital. “Já existia lista de espera antes dos fechamentos. É preciso que hospitais clínicos também ofereçam leitos psiquiátricos”, argumenta.

Para o presidente do Núcleo de Psiquiatria do Ceará, Alonso Aquino, o fechamento de leitos é resultado do “tratamento psiquiátrico com ideologia” em que, segundo ele, o atendimento nos Centros de Atenção Psicossocial (Caps) acabou se tornando única alternativa. “Muitos acreditavam que não havia mais doença mental, que elas poderiam ser tratadas só ambulatorialmente”, critica.

Ele avalia que não há interesse governamental em resolver o problema e que a extinção gradativa das vagas aponta para o fim dos leitos psiquiátricos em Fortaleza.

Espera
A situação da falta de leitos em Fortaleza foi denunciada ao Ministério Público Estadual pelo psiquiatra Adelmo Aragão. Funcionário do Hospital de Saúde Mental de Messejana, Adelmo conta que a espera no Hospital de pacientes e familiares, muitos deles vindos do Interior, chega a durar entre três e cinco dias.

Para explicar a política de redução de leitor e o motivo do fechamento de leitos psiquiátricos, O POVO tentou contato com a coordenadora das políticas de Saúde Mental do município, Rane Félix, mas até o fechamento da edição não obteve resposta.

Por quê

ENTENDA A NOTÍCIA

A Política Nacional de Saúde Mental, criada em 2002, prevê modelo de atenção aberto e com base na comunidade. Para os psiquiatras, porém, os leitos ainda são necessários para tratamento de pacientes com crises agudas.

SAIBA MAIS
O psiquiatra Adelmo Aragão alerta para desproporção entre número de leitos psiquiátricos e população no Ceará.

Segundo Aragão, a média cearense é de 0,07 leitos para cada mil habitantes.

A recomendação do Ministério da Saúde é de que haja pelo menos 0,48 leitos para cada mil habitantes.

No Japão, essa média é de 2,9 leitos para cada mil habitantes.


Thiago Mendes
thiagomendes@opovo.com.br

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