segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Saúde e Doença - a visão atual 29/07/2005 Por João Paulo Correia Lima * 1 Antigamente, quando se pensava em "saúde" se pensava em alguém que não estivesse doente. Não estar doente era não ter sintomas como febre ou dor de cabeça. Mas, essa é uma visão bastante antiga e desatualizada. Além, de restrita. Ela é própria de uma época em que havia grande entusiasmo em relação às descobertas de bacilos e do poder dos micro-organismos causarem doenças. A gente não faz idéia do que era descobrir isso numa época em que não se podia fazer quase nada pelas pessoas doentes... A doença era um mistério profundo e a medicina ficava desconfortavelmente em cima do muro, entre a superstição de um lado e práticas duvidosas e aleatórias do outro... como sangrias ou banhos. Simplesmente, os médicos não sabiam o que estava acontecendo direito com as pessoas doentes e tentavam fazer o que podiam, baseados nos melhores esquemas teóricos da época e em práticas que pareciam dar algum resultado, que os colegas tentavam e pareciam melhorar o estado do paciente. Aí, veio alguém que resolveu uma parte do mistério todo! Existiam micróbios!!! Seres vivos invisíveis de tão pequenos que podiam causar doenças, atacando nosso organismo para poder viverem, para tirar dele seus nutrientes. Isso resolvia "tudo"! De repente, você tinha a chave na mão! Podia entender e realmente fazer ALGO por aquelas pessoas...Esse entusiasmo levou todo mundo a encarar a idéia de saúde como uma questão básica de micróbios atacando o organismo. E uma idéia que funciona bem em uma coisa, logo a usamos para abordar tudo... Aquela pessoa que não podia fazer muita coisa pelos seus pacientes, agora tinha um recurso muito forte!! Não é de se estranhar que todo o serviço de saúde tenha se identificado como "caçadores de micróbios". Era a única idéia que - até então - era realmente eficaz contra as doenças. Isso gerou toda uma tecnologia de identificar os micróbios e ajudar nosso organismo a combate-los e toda a linha de pesquisa foi calcada nessa idéia. Por isso, idéias de higiene e bons hábitos alimentares foram tão difundidas e estão presentes em todos os currículos escolares. Higiene para eliminar micróbios e bons hábitos para termos um organismo forte para enfrentar os microorganismos. Ter saúde, então, era nos vermos livres da ação dos micro-organismos. Essa descoberta - do micróbio como causa da doença - foi uma grande idéia. Trouxe grande avanço e ajudou muita gente e até hoje ajuda, obviamente. A quantidade de mortes, sofrimentos e mutilações que isso evitou, evita e evitará é uma coisa incalculável... Só o que aconteceu foi que o entusiasmo por essa idéia micróbio-doença ocupou toda a cena, não restando espaço para mais nada. Como tudo que dá certo... todo o ensino, treinamento, preparo dos profissionais da saúde davam ênfase na área em que eles realmente podiam fazer alguma coisa... Com o passar do tempo, essa ênfase virou exclusividade, com o tempo essa animação toda com a nova descoberta dos micróbios fez com que as pessoas se acostumassem a pensar em doença só em termos de micróbios e em saúde só em termos de não se estar doente, isto é, livre de micróbios. As pessoas acabaram esquecendo um monte de coisas e a não procurar mais nada. Ai se criou uma séria rigidez em torno do raciocínio dos profissionais da saúde: doença era sinônimo de micróbio, basicamente. Fora disso... era bobagem... fingimento... frescura... Embora, hoje em dia o pensamento geral seja ainda esse, assim como dos profissionais mais desatualizados ou apegados a esquemas antigos, a comunidade científica internacional, há décadas, tem encarado as coisas de modo diferente: saúde é o bem estar físico, psíquico e social da pessoa. Não se pensa mais em saúde como "aquele estado sem doença", aquela coisa de que "você está bem se não tem nada"... Hoje, todo bom profissional de saúde encara a saúde como uma coisa muito complexa, fruto de um bom funcionamento bio-psico-social, que produz a maior riqueza da vida: o bem estar!!! 
* João Paulo Correia Lima é psicólogo e participante da Associação Brasileira de Medicina Psicossomática. 
 ** Artigo originalmente publicado no site da Associação.

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